GirlTalk: e se a gente fosse, sei lá, amigas?

Quando eu falo que a gente devia tudo rever Meninas Malvadas pra ver se aprende a mensagem do filme, eu falo sério. Eu ia escrever um textão lindo e bonito, mas estou sem tempo, sem saco, e é quase impossível digitar com unhas postiças (ME DEISHA SER LOCA).

Mas resumindo. Já é um saco ser mulher nesse mundo de merda. Se a gente parar pra pensar, há uns 600 anos ainda estávamos sendo queimadas por aí na fogueira por causa de umas ervas e uns gato preto (oi, jezebel <3).

E a gente já é agredida a porra do dia inteiro desde pequena de todas as formas possíveis. De formas que a gente nem imagina. Bombardeadas para sermos fofas obedientes e inofensivas (alguém aqui já parou pra pensar que magreza tem muito mais a ver com obediência do que com beleza?).

Enfim, todo mundo aqui já sabe disso. Então partindo da premissa que tamo tudo no mesmo barco, e se, talvez, sei lá (só uma ideia, tá?) a gente fosse amiga e se unisse? O nome disso é sororidade e a querida Dani Cruz explicou isso lindamente em seu blog, Mais Magenta.

É muito mais fácil sermos caladas e controladas quando estamos ocupadas chamando umas as outras de vacas, gordas, putas e competindo entre nós mesmas. E não sei se todo mundo tá ciente disso aqui, mas é muito fácil ser aquela “one cool girl” que come hambúrguer, joga videogame, tem ~mais amigos caras do que minas, pq mina é cheia de nhé nhé nhé~, quando você é magrinha, bonitinha, hétero e dentro do padrão de beleza. E,  enquanto você tá lá linda se achando super fodona, tu acaba alimentando mais um padrão machista. Pior, sem saber.

Este espaço é dedicado à música para meninas (meninos não-pau no cu sempre foram bem vindos, vdd), mas hojes estou usando-o para pedir, de coração, para que nós mulheres, garotas, meninas, sejamos mais legais e solidárias com as outras.

Todas nós ouvimos as mesmas merdas. Todas nós passamos pelas mesmas bostas. Todas nós temos uma história para contar. E, estatisticamente, todas nós teremos algum trauma.

Ontem, acabei me envolvendo em uma discussão em um tópico sobre a polícia assassina brasileira e um TV Revolta começou a me agredir de todas as formas possíveis, incluindo com imagens de pessoas mortas. Todos discordavam dele no tópico, mas eu, a única garota, era o seu alvo. Do mainsplaining ao gaslighting, passando por ameaças bem pesadas, enfrentei o imbecil com a faca na bota porque decidi que não ia deixar aquele idiota calar a minha boca.

Acabei levando a discussão para um grupo feminista e no final das contas, algumas garotas ao invés de verem como o cara era doido, começara a analisar O MEU enfrentamento, a MINHA forma de argumentar, sugerindo até que a culpa do cara ter sido tão escroto foi minha. Sim, garotas culpando a vítima no grupo feminista.

Depois falaram que o fato de eu ter compartilhado o post no grupo foi um corre pra saia da mãe, do tipo “não sabe brincar, não desce pro play”.  Quando disse como estava me sentindo julgada, ainda disseram que eu tinha entendido errado e a ideia não era essa e sim me ajudar. Sim, Gaslighting entre garotas também. E eu me pergunto, a troco de quê?

Esse não é um texto para feministas ou ativistas ou o que quer que seja.

Esse é um texto para falar, por experiência própria, que dói muito mais quando a agressão vem de uma garota. E que, por favor, paremos com isso.

Porque -de novo- acima de tudo somos mulheres que vivem num mundo que há 600 anos, ainda eram queimadas na fogueira. E a gente ainda tem muita, mas muita merda espalhada pra atravessar.

Abaixo o vídeo da Dani explicando direitinho o que é sororidade, e mais abaixo ainda, o disco do Bikini Kill da nossa musa Kathleen Hanna que ilustrou esse post.

Sobre DebbieHell

Redatora, DJ, e louca por música, e acha um absurdo a expressão "música de menina" ser usada de forma pejorativa. Sócia-fundadora-editora-rainha do Ouvindo Antes de Morrer, apresenta o programa de Debbie Records na Rádio Brasil 2000, não sabe a hora de parar e é um fucking car crash. Ctto: ouvindoantesdemorrer@gmail.com Twitter / Instagram: @debbiehell
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